No que parece uma tentativa de
corrigir o autoritarismo que militava na educação das anteriores gerações, os
actuais pais tendem a compensar os filhos com excessiva permissividade.
Passámos de um extremo ao outro.
O autoritarismo expressa-se por
regras estanques e invioláveis, independentemente das circunstâncias e, muitas
das vezes, por uma ausência de diálogo no sentido de adaptar as normas exigidas
às diversas situações. Como consequência, temos uma relação pais/filhos
distante, assente numa base emocional pouco sólida e com uma estrutura de
relacionamento frágil. Já a permissividade revela-se numa ausência (quase)
total de toda e qualquer regra, toda e qualquer repreensão, aceitação de todos
os desejos expressos pela criança /adolescente, sem objecções. Esta atitude de
facilitismo por parte dos pais promove uma insegurança e instabilidade
crescentes – a criança desconhece quem a dirige, a acompanha, a apoia e suporta
nas suas crises, criando um sentimento de pseudo abandono. A boa intenção
parental, neste caso, é mais prejudicial do que benéfica - a criança
experiencia uma desorganização interna, em termos emocionais, e manifesta essa
desorganização, nomeadamente, através das chamadas “birras” frequentes. Por
norma, este comportamento é revelador desse mal-estar interno.
Existirá, então, um modelo ideal
para educar um ser em desenvolvimento? Não se pode dizer que exista uma regra
de ouro, mas procurar equilibrar as atitudes parentais entre um excesso –
autoritarismo – e o outro – facilitismo – será um bom passo para um
desenvolvimento mais harmonioso. O ideal é, portanto, evitar os extremos, tão
frequentemente incorrectos. Procuremos optar pelo meio-termo entre um
autoritarismo impróprio (ausência de diálogo, regras incontornáveis e imutáveis)
e a permissividade excessiva (de um grau de disciplina nível zero e de uma
satisfação permanente de todos os desejos expressos pela criança).
A disciplina na educação é
importante na medida em que define, durante o desenvolvimento infantil e juvenil,
os limites por que nos orientamos. Promove o equilíbrio emocional, uma vez que
delimita o nosso comportamento, dirige as nossas atitudes e permite-nos
desenvolver a capacidade de aceitar as frustrações do dia-a-dia e saber lidar
com elas – gerindo-as e ultrapassando-as, vivendo harmoniosamente em sociedade.
Estas mesmas regras e limites permitem à criança ser correspondida nas
expectativas, ou seja, se conheço os meus limites sei o que esperar de
determinada atitude ou exigência. Isto é fundamental para uma criança ser
correspondida nas suas expectativas; saber o que pode esperar; com o que pode
contar. Para tal é preciso que a criação e transmissão desta disciplina seja
implementada com consistência e coerência – os pais não podem proibir agora o
que permitem daqui a pouco, por exemplo. Sendo ainda que a recusa de um desejo
deve sempre ser acompanhada de uma justificação, ao invés do inapropriado “não,
porque não!”.
Apesar de não existir a já
referida e tão almejada regra de outro que possa aplicar-se a todas as crianças
e adolescentes de forma a garantir a educação ideal, deixamos aqui algumas
dicas mais generalistas para que possam servir de reflexão, tanto no registo da
transmissão das regras, como no da atenção que deve ser dispensada à criança.
Dicas para disciplinar:
· * Procure não dar uma ordem se não estiver
convicto de que é, realmente, para cumprir; por exemplo: pais que aumentam o
tom de voz para exigir a arrumação do quarto, mas que, enquanto ralham, vão
arrumando o quarto em simultâneo. A criança, aos poucos, desvaloriza o tom de
voz e a exigência, porque percebe que não tem que cumprir nenhum objectivo, vai
continuar a desarrumar o quarto e só precisa de estar preparada para ouvir o/a
pai/mãe a falar alto por uns minutos. Em contraposição, tente transmitir a
regra com um tom firme, directa e sem reticências. Não precisa aumentar o tom
de voz, basta demonstrar que pretende realmente a arrumação – levada a cabo
pelo(a) seu (sua) filho(a) – em tom sério, claro, preciso e sem que fique a
ideia que se trata de um pedido porque, de facto, não o é. Certifique-se ainda
de que o(a) seu (sua) filho(a) está a prestar atenção ao que lhe transmite sem
interferências distrativas (jogos, amigos, etc).
· * O cumprimento das regras deve sempre gerar o
reforço positivo. Também aqui deve ser claro e directo, por exemplo “gosto
quando arrumas o quarto” ou “é muito bom quando fazes o que te digo”. Ao
reforçar positivamente a conduta do seu filho, sempre que merecido, quer por
palavras, quer por gestos de carinho, está a demonstrar-lhe que valoriza o seu
comportamento e que está atenta a este, instigando a perpetuação de uma boa
conduta
Revele interesse e atenção:
· * Preste atenção ao que o seu filho lhe quer
contar ao fim do dia, revelando-lhe que se interessa pelas suas histórias.
Exemplo: “Fico muito contente que partilhes isso comigo” ou “é bom saber o que
acontece contigo quando estás com os teus amigos”. Adicionalmente, tente
colocar-lhe questões sobre o que lhe está a contar, demonstrando que está
realmente a ouvi-lo e interessado”. Por exemplo: “quer dizer, então, que te
pareceu melhor fazer… “ ou “sim, sim estou a perceber o que me queres dizer.
Fizeste isto ou aquilo porque…”
· * Pergunte-lhe se tem alguma coisa que queira
contar-lhe, mas sem que a criança se sinta invadida pela curiosidade, ou seja,
saiba aceitar caso não tenha nada para contar: “queres contar-me alguma coisa
sobre o teu dia?” ou “parece que não te apetece falar, eu entendo, quero só que
saibas que me interesso pelo que fazes e gosto que o partilhes comigo”. Deixe
explícita a sua disposição e disponibilidade para a ouvir atentamente, sempre
que exista essa necessidade. No entanto, a sua manifestação de aceitar o
silêncio pode também ser preciosa. Apesar de(a) seu (sua) filho(a), a criança
tem direito à sua privacidade e a optar pelo momento em que está disposta a
partilhá-la consigo.
Alexandra
Silva Nunes
Psicóloga
/ Psicoterapeuta
Cédula
Profissional nº 3347
PSICOLOGIA 4 A L L
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