Enquanto uns se apressam a
rotular a criança de teimosa, e imediatamente surge um familiar próximo com
quem a identificam, outros preocupam-se com a forma como podem lidar com a
situação – tudo por causa das birras. “Serão
normais estas birras?”; “Por que é que acontecem?”; “Como devo reagir?” São
questões muito comuns.
As birras são muito comuns na
fase dos 2 / 3 anos de idade e são normais e até saudáveis. São comuns a todas
as crianças dessa faixa etária (ou espera-se que sejam) e são consideradas
saudáveis porque acabam por passar uma aprendizagem à criança, se o adulto /
cuidador reagir adequadamente à situação.
Antes de começar a caminhar, a
falar e a conseguir o controlo dos esfíncteres, a criança é muito dependente
dos cuidadores. É a partir do momento que começa a poder deslocar-se - com a aquisição
da marcha; a começar a falar – aquisição da linguagem, e a controlar
os esfíncteres que consegue sentir-se mais autónoma; mais independente.
Ora a autonomia permite-lhe a possibilidade de opor-se aos outros e dá-lhe uma
maior sensação de poder: “posso ir para onde quero; posso dizer “NÃO” e decidir
onde e quando saem os meus cócós e xixis”. Esta “força” que sente vai tentar
aplicar a todas as circunstâncias em que a vida não lhe corre como mais deseja.
E usa o espernear, gritar, pontapear e atiradas para o chão como argumentos de
peso.
Como ser intuitivo e muito
perspicaz que é (todas as crianças o são), lança os ditos argumentos de peso e
aguarda pela reação dos cuidadores para perceber:
1.
Se assentem ao desejo, validando o argumento -
que passa de negado, em primeiro plano, a consentido, logo a seguir;
2.
Ou, então, os cuidadores suportam a birra; não a
valorizam e esperam calmamente que a criança consiga tranquilizar-se
É nesta reação dos adultos que
pode residir a chave para que as birras sejam uma mera fase do desenvolvimento
emocional infantil, considerada por si só como transitória, ou assumam
contornos de comportamento característico da criança.
Os cuidadores devem, esperar que
a criança se tranquilize sem ceder ao que originou a birra, quer este
comportamento seja em casa, num ambiente mais privado, quer seja fora, num
espaço público. Os desejos concedidos durante uma birra promovem o continuar
deste comportamento porque a criança percebe “isto funciona”.
A capacidade dos cuidadores
suportarem / aguentarem o momento da birra, proporciona à criança:
1. a
possibilidade de aprender a tolerar a frustração. Efetivamente, nem tudo o que
se deseja pode ser alcançado e é desde pequeninos que essa aprendizagem é
feita, através destas pequenas frustrações.
2.
A sensação de limites que conduz a criança a
sentir-se mais segura, mais apoiada, vivenciando os cuidadores como fontes de
suporte.
Espera-se que a atitude dos
cuidadores seja consistente no tempo, permitindo à criança espaço para
compreender que os pais estão seguros de si, têm regras bem definidas, o que se
traduz em conforto e segurança para a criança. Desta forma, conseguirá sentir
os pais como os pilares fortes que precisa para crescer saudavelmente
confiante.
Muito embora as já referidas
birras sejam comuns no processo de desenvolvimento emocional, é importante ter
em atenção a idade da criança para poder definir o comportamento como ajustado
(ou não). Se persistirem dúvidas, não hesite em contactar-nos.
Alexandra Silva Nunes
Psicóloga /
Psicoterapeuta
Cédula Profissional nº
3347
E-mail:
alexandrasilvanunes.psicologia@gmail.com
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