quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Infância 100 limites

No que parece uma tentativa de corrigir o autoritarismo que militava na educação das anteriores gerações, os actuais pais tendem a compensar os filhos com excessiva permissividade. Passámos de um extremo ao outro.

O autoritarismo expressa-se por regras estanques e invioláveis, independentemente das circunstâncias e, muitas das vezes, por uma ausência de diálogo no sentido de adaptar as normas exigidas às diversas situações. Como consequência, temos uma relação pais/filhos distante, assente numa base emocional pouco sólida e com uma estrutura de relacionamento frágil. Já a permissividade revela-se numa ausência (quase) total de toda e qualquer regra, toda e qualquer repreensão, aceitação de todos os desejos expressos pela criança /adolescente, sem objecções. Esta atitude de facilitismo por parte dos pais promove uma insegurança e instabilidade crescentes – a criança desconhece quem a dirige, a acompanha, a apoia e suporta nas suas crises, criando um sentimento de pseudo abandono. A boa intenção parental, neste caso, é mais prejudicial do que benéfica - a criança experiencia uma desorganização interna, em termos emocionais, e manifesta essa desorganização, nomeadamente, através das chamadas “birras” frequentes. Por norma, este comportamento é revelador desse mal-estar interno.

Existirá, então, um modelo ideal para educar um ser em desenvolvimento? Não se pode dizer que exista uma regra de ouro, mas procurar equilibrar as atitudes parentais entre um excesso – autoritarismo – e o outro – facilitismo – será um bom passo para um desenvolvimento mais harmonioso. O ideal é, portanto, evitar os extremos, tão frequentemente incorrectos. Procuremos optar pelo meio-termo entre um autoritarismo impróprio (ausência de diálogo, regras incontornáveis e imutáveis) e a permissividade excessiva (de um grau de disciplina nível zero e de uma satisfação permanente de todos os desejos expressos pela criança).

A disciplina na educação é importante na medida em que define, durante o desenvolvimento infantil e juvenil, os limites por que nos orientamos. Promove o equilíbrio emocional, uma vez que delimita o nosso comportamento, dirige as nossas atitudes e permite-nos desenvolver a capacidade de aceitar as frustrações do dia-a-dia e saber lidar com elas – gerindo-as e ultrapassando-as, vivendo harmoniosamente em sociedade. Estas mesmas regras e limites permitem à criança ser correspondida nas expectativas, ou seja, se conheço os meus limites sei o que esperar de determinada atitude ou exigência. Isto é fundamental para uma criança ser correspondida nas suas expectativas; saber o que pode esperar; com o que pode contar. Para tal é preciso que a criação e transmissão desta disciplina seja implementada com consistência e coerência – os pais não podem proibir agora o que permitem daqui a pouco, por exemplo. Sendo ainda que a recusa de um desejo deve sempre ser acompanhada de uma justificação, ao invés do inapropriado “não, porque não!”.

Apesar de não existir a já referida e tão almejada regra de outro que possa aplicar-se a todas as crianças e adolescentes de forma a garantir a educação ideal, deixamos aqui algumas dicas mais generalistas para que possam servir de reflexão, tanto no registo da transmissão das regras, como no da atenção que deve ser dispensada à criança.

Dicas para disciplinar:
·       *  Procure não dar uma ordem se não estiver convicto de que é, realmente, para cumprir; por exemplo: pais que aumentam o tom de voz para exigir a arrumação do quarto, mas que, enquanto ralham, vão arrumando o quarto em simultâneo. A criança, aos poucos, desvaloriza o tom de voz e a exigência, porque percebe que não tem que cumprir nenhum objectivo, vai continuar a desarrumar o quarto e só precisa de estar preparada para ouvir o/a pai/mãe a falar alto por uns minutos. Em contraposição, tente transmitir a regra com um tom firme, directa e sem reticências. Não precisa aumentar o tom de voz, basta demonstrar que pretende realmente a arrumação – levada a cabo pelo(a) seu (sua) filho(a) – em tom sério, claro, preciso e sem que fique a ideia que se trata de um pedido porque, de facto, não o é. Certifique-se ainda de que o(a) seu (sua) filho(a) está a prestar atenção ao que lhe transmite sem interferências distrativas (jogos, amigos, etc).

·   *  O cumprimento das regras deve sempre gerar o reforço positivo. Também aqui deve ser claro e directo, por exemplo “gosto quando arrumas o quarto” ou “é muito bom quando fazes o que te digo”. Ao reforçar positivamente a conduta do seu filho, sempre que merecido, quer por palavras, quer por gestos de carinho, está a demonstrar-lhe que valoriza o seu comportamento e que está atenta a este, instigando a perpetuação de uma boa conduta

Revele interesse e atenção:
·     *   Preste atenção ao que o seu filho lhe quer contar ao fim do dia, revelando-lhe que se interessa pelas suas histórias. Exemplo: “Fico muito contente que partilhes isso comigo” ou “é bom saber o que acontece contigo quando estás com os teus amigos”. Adicionalmente, tente colocar-lhe questões sobre o que lhe está a contar, demonstrando que está realmente a ouvi-lo e interessado”. Por exemplo: “quer dizer, então, que te pareceu melhor fazer… “ ou “sim, sim estou a perceber o que me queres dizer. Fizeste isto ou aquilo porque…”

·      *   Pergunte-lhe se tem alguma coisa que queira contar-lhe, mas sem que a criança se sinta invadida pela curiosidade, ou seja, saiba aceitar caso não tenha nada para contar: “queres contar-me alguma coisa sobre o teu dia?” ou “parece que não te apetece falar, eu entendo, quero só que saibas que me interesso pelo que fazes e gosto que o partilhes comigo”. Deixe explícita a sua disposição e disponibilidade para a ouvir atentamente, sempre que exista essa necessidade. No entanto, a sua manifestação de aceitar o silêncio pode também ser preciosa. Apesar de(a) seu (sua) filho(a), a criança tem direito à sua privacidade e a optar pelo momento em que está disposta a partilhá-la consigo.


Alexandra Silva Nunes
Psicóloga / Psicoterapeuta
Cédula Profissional nº 3347

PSICOLOGIA    L 
Amora
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